lunes, 18 de septiembre de 2017

Percepções dos lugares naturais, segundo Norberg-Schulz.

Percepções dos lugares naturais, segundo Norberg-Schulz.
Jorge Villavisencio.

Neste breve texto vamos abordaremos os lugares naturais. Quando nos encomendam um determinado projeto de arquitetura o primeiro que se nos vem na mente “como é o lugar” onde estará inserido o projeto?

Si for à paisagem urbana existem vários referentes que podem servir para a projetação, como: o sistema viário, a forma do terreno, a circulação das pessoas, edifícios importantes históricos ou contemporâneos, a forma de como vivem as pessoas, as condicionantes, etc. Estas forças fazem que nossas percepções sejam inseridas no nosso contexto, para isto é necessário fazer uma pesquisa apurada sobre alguns assuntos mencionados. Sem dúvida tomar “conceito-partido” sobre um determinado assunto dará coerência espacial a todo o projeto.

Mas si for o caso que seja num “lugar natural” podem ter percepções bem diferentes, para isto temos tomado como referente o livro Genius Loci do arquiteto e teórico da arquitetura o norueguês Christian Norberg-Schulz (1926-2000), o significado latino de Genius Loci é “o espirito do lugar”, então, que significado pode ter esse lugar natural?

Para Norberg-Schulz em sua discussão sobre os lugares naturais, como forças originais, indica que pode ser vista baixo: a cósmica, a romântica e a clássica, no final faz uma análise das três juntas como paisagem complexa, sem dúvida estes pontos de vista como arquetípicos do lugar, nos leva a novas percepções de como nos podem auxiliar para tomar novos conceitos sobre o lugar natural.

Os fenômenos da paisagem cósmica.
Com relação à paisagem “cósmica”, nos indica: “que no deserto... o mundo concreto é reduzido a poucos e simples fenômenos”, a monotonia do deserto está presente em todo momento, como uma linha no horizonte onde nada acontece.

Neste deserto o espaço definido como “territórios qualitativos” criando assim uma ordem “eterna e absoluta”, só a terra e o céu esta presente, inclusive se descreve como um meridiano de leste ao oeste, o dia e a noite com absoluta calma, só indicando os pontos cardinais. Mas indica que o único que acontece a tempestade de areia, mas também de forma monótona, porque “ela esconde o mundo, mas não muda”. Pelo tanto o homem não encontra suas forças com a natureza, mas experimenta as suas mais “absolutas propriedades cósmicas”.

O céu ser torna interminável, ao mesmo tempo abraça o espaço, como si fosse o absoluto. Na imagem do Museu do Sitio de Pachacamac {significado: “alma da terra que anima o mundo”} (ver imagem 01 e 02) na parte litorânea na tablada de Lurín, “... estas regiões da costa litorânea presentam severas limitações de desenvolvimento agrícola, com escassez de agua, solos inadequados para o cultivo. As zonas de cultivo se limitam alguns vales e oásis...” (Canziani, 2009:35).

F.01 - Museu do Sitio de Pachacamac (2016) – arquitetos Llosa & Cortegana.
Fonte: Jorge Villavisencio (2017)

F.02 - Museu do Sitio de Pachacamac (2016) – arquitetos Llosa & Cortegana.
Fonte: Jorge Villavisencio (2017)

Como temos podido apreciar na citação de Canziani, a relação com a natureza só se dá em vales e oásis. No entanto para Norberg-Schulz o oásis é um lugar intimo dentro do macromundo cósmico, a palavra oásis vem do egípcio “lugar de habitar”. Poderíamos pensar que o oásis é o único lugar de habitar. Mas lembremos de que na vida no deserto é de forma de nômades, onde só fazem suas paradas justamente nos oásis, para continuar com sua larga jornada no deserto.
Podemos colocar o exemplo o projeto da Rick Joy (ver imagem 03) no Arizona.

F.03 – Casa Avra Verde, Tucson, Arizona – arquiteto Rick Joy.
Fonte: Pinterest (2017)

Nas diferentes culturas do oriente médio, tanto no judaísmo, como no islã e o cristianismo, se originam no deserto. “Quanto mais você penetra no deserto, mais perto de Deus você chega”.
Pensamos que na paisagem cósmica o céu é o importante, uma delgada linha no horizonte embrulhada pelo céu, poderíamos definir: como algo abstrato com ritmo temporal é simples, sem maior matacões, todo acontece com muita calma, é de forma vertical.

Outro exemplo claro de paisagem cósmica seria Brasília (ver imagem 04), um céu azul fulminante, uma secura implacável, o calor e sol faz parte da fenomenologia do território de centro-oeste brasileiro, e uma arquitetura que na sua maioria (inicios dos primeiros edifícios na fundação de Brasília) como flutuante.

F.04 – Brasília 1978.
Fonte: Jorge Villavisencio (1978)

Os contornos naturais da paisagem romântica.
Nesta segunda parte trataremos da paisagem “romântica”, Norberg-Schulz faz analogias com relação à paisagem da floresta nórdica, e claro dos diferentes aspectos que fazem parte deste lugar, como o relevo variado, com rochas, continuidade e de depressões- Além que os bosques, arbustos e moitas criam uma “microestrutura”, e o céu quase não se vê e é continuamente modificado.

Todos os aspectos acima mencionados tem um jogo teatral de seus “contornos naturais”, estes câmbios constantes provocados pelos filtros de luz e sombra. A qualidade de ar muda com seus nevoeiros que se mimetizam na paisagem.

Definido por Norberg-Schulz como um “manifesto um mutável e incompreensível”, penso que vemos umas imensidades de atos feitos pela natureza que podem ser importantes para a concepção do partido arquitetônico. Como explica “multidão de forças naturais”, criando desta forma uma empatia com a natureza, apresar claro das dificuldades de entender a diversidade que entranha em si.

Também, explica que neste lugar nórdico existem lendas como de gnomos, gigantes, que está inserido dentro da cultura popular, algo como si estivesse escondido, algo similar de como é as florestas, que um até perde o rumo, de onde está localizado. Mas indica “... que o homem para um passado distante, que é vivenciado mais emocionalmente do que compreendido como alegoria ou história”.

Na cidade de Iquitos no Perú (ver imagem 05), banhada pelo rio Amazonas, tem caraterísticas românticas, não só como historia como indica Norberg-Schulz, mais bem como processo de construção de um passado da própria vivencia e experiência indígena, forem eles que moram vários séculos que traz como premissa seu modus vivendi, com o passar do tempo essas experiências forem transmitidas para o presente, existe sim uma interação do homem com seu ambiente, muito diverso, que estão vinculados enraizados com a terra. Um ambiente denso e difícil de explicar.

F.05 – Cidade de Iquitos, Bairro de Belém.
Fonte: Jorge Villavisencio (2014)

Em Iquitos a agua e a terra faz parte de seu patrimônio, uma arquitetura orgânica que se adapta muito bem as condições da terra. Um dinamismo na sua cultura e de sua arquitetura original. Que a pesar do tempo forem mudando, mas sua essência espacial continua. Si vemos os recentes projetos contemporâneos como os apresentados na 15° Bienal de Venécia (2016), pelos arquitetos Pierre Crousse e Sandra Barclay (ver imagem 06), projeto denominado de “Nosso Frente Amazónico”. (Villavisencio, 2016).

Para Montaner explica: “... é preciso definir certos conceitos afins que são utilizados para caracterizar a arquitetura bem relacionada com o meio ambiente. Poderíamos dizer que a arquitetura bioclimática é aquela que tradicionalmente construía com materiais do local e se integrava com seu entorno imediato, inspirando-se na arquitetura vernacular”. (Montaner, 2016:113).

F.06 - Escola (2014) no Amazonas – arquitetos Jean Pierre Crousse e Sandra Barclay.
Fonte: MINIEDU (2016)

“Na pintura (ver imagem 07) titulada – O mar glacial – (1824), também conhecida como a esperança frustrada do pintor iluminista o alemão Caspar David Friedrich (1774-1840), leva a pintura ao insuperável do dramatismo” (Toman, 2006:322).

F.07 – Pintura “O mar Glacial” (1824) – Caspar David Friedrich.
Fonte: Rolf Toman (2006)

Desta forma Norberg-Schulz indica: “Multidão de forças naturais”, no sentido intima com a natureza, que requere importância nos elementos de abstração e da ordem.

Este conceito de “conhecer o macro para entender o micro”, é importante porque com o macro entendemos o todo, é no micro as próprias necessidades, desta forma se produz um melhor entendimento e interação entre o homem e seu ambiente.
Outro exemplo da casa da paisagem romântica, seria a casa Möbius (1995-1998), no local Het Gooi nos Países Baixos (ver imagem 08) do arquiteto Bem Van Berkel. Nesta obra o entrelaçamento com a natureza torna-se evidente como esconderijo, como domínio privado.

F.08 – Casa Möbius (1995-1998) – arquiteto Bem Van Berkel.
Fonte: Virtual Scale Model Moebius House – You Tube (2009)

Também explica, que na paisagem nórdica é denominada pela terra. É uma paisagem “tipicamente térrea” que não tende aproximar-se do céu, é sim pelo inúmero de elementos que os rodeiam, elementos substanciais que é a terra.

O equilíbrio da paisagem clássica.
Nesta terceira parte trataremos da paisagem “clássica”, a paisagem não e caraterizada pela monotonia, mais bem existe uma boa convivência com a natureza.

As dimensões humanas torna-se fundamental, que constituem o equilíbrio total, as paisagem ser torna delimitada como vales e enseadas. Norberg-Schulz diz como “mundos individuais”. A luz se distribui em todos os cantos, claro com caraterísticas desses diferentes mundos individuais, o ar da mesma maneira é distribuído, outorgando forma escultural. Dando assim sua presença concreta. A paisagem clássica pode ser descrita como uma “ordem significativa de lugares distintos e individuais”.

Se a dimensões humanas são fundamentais, é de bom tom lembrar: “O homem vê os objetos que estão a 1.70 m. do solo. Podemos contar somente com os objetos accessíveis ao olho, com intensões que nos mostram os elementos da arquitetura”. (Le Corbusier, 2000:XXXII).

Consideramos que os gregos são os que personificam as diferentes propriedades naturais e humanas, por tanto existe um companheirismo humano que preserva sua individualidade dentro dessa totalidade.

Por outro lado a boa convivência com o ambiente natural, faz parte desse convívio de boas inter-relações. Segundo Norberg-Schulz: “Diante da natureza, como um parceiro igual”, sem duvida nos leva a ter aquela “vitalidade humana”.

Na pintura “o sonho do arquiteto” (ver imagem 09), do pintor inglês Thomas Cole (1801-1848), podemos apreciar “... revela a desmesurada capitel no que o arquiteto se apoia em uma atitude reflexiva...” (Toman, 2006:350)

F.09 – Pintura “O sonho do arquiteto” (1840) – Thomas Cole.
Fonte: Rolf Toman (2006)

Mas em termos contemporâneos podemos citar a Casa Grelha (2000-2002) da FGMF arquitetos (ver imagem 10), inserida numa topografia acidentada, onde se criam diversos trajetos, por fora e dentro da casa, procurando contemplação em todas suas partes, além de uma boa relação com a natureza. Que na realidade são módulos de 5.5 x 5.5 x 3 metros.

F.10 – Casa Grelha (2000-2002) – FGMF arquitetos.
Fonte: Word Press (2010)

Finalmente as “paisagens complexas” seria a união das antes mencionada, porque Norberg-Schulz, onde adverte: “Como tipos (cósmica, romântica e clássica), no entanto, elas dificilmente aparecem em forma pura, mas participam de vários tipos de sínteses”.

Pensamos que a razão de percepção do espaço como paisagem natural é o que denomina Norberg-Schulz o Genius Loci – o espirito do lugar, como tipologias espaciais de própria natureza nos dá, a nossa interpretação de aquele lugar está sim recheados das forcas que natureza nos traz.

Goiânia, 18 de setembro de 2017.
Arq. MSc. Jorge Villavisencio.



Bibliografia:

NORBERG-SCHULZ, Christian; Genius Loci, Rizzolli Internacional Publications, New York, 1980. (pp.42-48), Tradução: Adriana Andrade.

CANZIANI, Amico José; Ciudad y Territorio en los Andes: Contribuciones a la historia del urbanismo Prehispánico, Fondo Editorial de la Pontificia Universidad Católica del Perú, Lima, 2009.

MONTANER, Josep Maria; A condição contemporânea da arquitetura, Editora Gustavo Gili, São Paulo, 2016.

TOMAN, Rolf; Neoclasicismo y Romanticismo: arquitectura, escultura, pintura y dibujo, Editora Tadem Verlag GmbH, Barcelona, 2006.

LE CORBUSIER; Por uma arquitetura {1923}, Editora Perspectiva, São Paulo, 2009.

FERNANDES, Mario; Brasília, Ed. Instituto Brasileiro de Estatística – IBGE, Rio de Janeiro, 1973.

VILLAVISENCIO, Jorge; Propostas e ideias na arquitetura contemporânea na bacia amazónica no Perú – 15° Bienal de Venécia 2016.
http://jvillavisencio.blogspot.com.br/2016/11/propostas-e-ideias-na-arquitetura.html



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